Na véspera de Natal de 2010, recém-completados 12 anos, realizei minha primeira viagem da qual tenho recordações. Filho de caminhoneiro, aproveitei as férias escolares para viver minha primeira experiência morando na estrada, com meu irmão e meu pai. Partimos para desbravar as estradas. Na época, o roteiro se resumia: Rio Grande do Sul a São Paulo. Mas, para quem nunca tinha saído do extremo oeste catarinense, era uma baita aventura.
Dois moleques naquela época, nós acordávamos tarde, e o caminhão já estava sempre em movimento. Com receio de que eu caísse do beliche, meu pai me acordava toda vez antes de dar partida, para que eu descesse e continuasse dormindo na cama de baixo.
Parávamos para preparar um café na “caixa” e logo seguíamos viagem. O almoço era sempre em algum restaurante, mas a janta variava bastante – na maioria das vezes, improvisada na caixa mesmo. Apesar da pouca idade, lembro nitidamente da preocupação da minha mãe, antes de sairmos, preocupada que não passássemos fome.
Vivi muitas experiências marcantes nesse mês. Dividir uma marmita com meu irmão, pernoitar sem banho porque o local de carga e descarga não tinha recursos, jogar bola com o filho de outro caminhoneiro e, o mais inesquecível: presenciar de perto a parceria entre os colegas de profissão. Mesmo sendo desconhecidos, compartilhavam um mate ao final da tarde enquanto aguardavam na fila, rindo e apresentando o bom e velho chimarrão do sul para o pessoal do Nordeste.
Acredito que meus pais não faziam ideia do quanto aquele mês morando na estrada significaria para mim. Cresci com um sentimento de “quero mais”, que só foi ganhando força ao longo do tempo. Mas isso eu conto nos próximos capítulos…